SARCÓFAGO EXISTENCIAL

08/7/16

Conta-se que um dia perguntaram a Mohandas Karamchand Gandhi se ele perdoou todas as ofensas de seus inimigos. Ele respondeu que não, pois ninguém nunca o havia conseguido ofender, logo não havia o que perdoar.

Eu não tenho a grandeza de Gandhi, aliás, longe disso. Já fui e me senti ofendido várias vezes, de muitas maneiras, por numerosas pessoas e em muitos lugares. Todas as vezes que falo sobre esse tema minha mente se encharca de lembranças com a cor e o sabor das ofensas sofridas. Eu sou uma vítima das ofensas. 

Agora que desabafei poderia parar por aqui e me juntar aos milhares que, diferentemente de Gandhi, se sentiram macerados pelas ofensas de outros. Contudo, é preciso ressaltar que para mim, um ofendido, pior que a ofensa é a injustiça. Eu quero justiça. Desejo ardentemente que a justiça divina se desdobre sobre todos os meus ofensores a fim de que eles experimentem o sabor do veneno ofensivo que, injustamente, destilaram sobre mim.

Mas antes que esse desejo se transforme numa oração, minha consciência me obriga a dizer que há algo de suma importância e que eu ainda não disse. Confesso: eu também sou ofensor, eu faço parte dos dois times – ofensivos e ofendidos. Seja por palavra ou ação, com ou sem intenção, eu também já feri através de ofensas há muitas pessoas.

Em busca da razão de ser assim, ofensor, me deparei com as Escrituras Sagradas que, como um espelho, me fez ver a mim mesmo. Descobri que era ofensor sem ainda ter a consciência de que ofendia - mais ignorante impossível. Depois, com um pouco mais de luz, descobri que minhas ofensas em primeira instância, eram direcionadas a Deus e consequentemente aos homens. E por fim descobri mais, que minhas ofensas eram o meu sarcófago existencial. “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas...” Efésios 2:5a

Eu confessei e agora busco quem queira confessar comigo. Como eu, quem nunca menosprezou, caluniou, difamou, ultrajou ou desconsiderou a alguém? 

Este mundo está cheio de ofensas e agora sei que eu também dei minha contribuição para torna-lo assim – ofensivo. 

Ofensas são desdobramentos do desequilíbrio humano – fruto da queda. Todos magoam, todos machucam, todos ofendem, consciente ou inconscientemente. A ofensa é tão presente em nossa experiência que não poupamos nem mesmo aqueles a quem dizemos amar.

O texto de Efésios usado acima não está completo – é proposital. A continuidade do traçado nos aponta um caminho de esperança: Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos) - Efésios 2:5.

A graça de Deus arrancou a tampa do meu sarcófago existencial e invadiu minha caixa de morte ofensiva com vida abundante. Agora, pois, se a vida anulou a morte que havia na ofensa, então já não há mais razões para ofender e nem se sentir ofendido.

Portanto, que a ofensa dê lugar ao arrependimento. Que o arrependimento se mostre tão público como a ofensa deferida. Que a graça vivificante nos capacite caminhar ao encontro daqueles que ofendemos e nos retratemos em tempo oportuno.

Ofensas públicas pedem retratações públicas. Ofensas privadas pedem retratações privadas.

E se os nossos ofensores não fizerem o mesmo com relação a nós? Então permanecerão encarcerados em seus sarcófagos existenciais, sendo devorados pelos bichos que se alimentam da alma. 

Não retribuam mal com mal nem insulto com insulto; pelo contrário, bendigam; pois para isso vocês foram chamados, para receberem bênção por herança. Pois, "quem quiser amar a vida e ver dias felizes, guarde a sua língua do mal e os seus lábios da falsidade. Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos e os seus ouvidos estão atentos à sua oração, mas o rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal". 1 Pedro 3:9-12

Simples assim.

Pr. Isaias Silva – Richmond-VA

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